sábado, 5 de novembro de 2011

Por onde Andei, Nando Reis





Leve-me para jantar
Chame-me para dançar
Convide-me a caminhar na chuva com você 
Convença-me a ficar junto com você olhando as estrelas dessa noite de céu lindo
Faça do meu dia o mais feliz
Faça de mim a mais feliz
Faça com que nosso momento seja sempre lembrado
Recupere-me a sensação de ter borboletas no estômago
Sinto falta delas, minhas antigas companheiras
Faça-me agir irracionalmente como não faço a anos
Lembre-me do que é bom na vida








Nos olhos lhe mora,
Uma graça viva,
Para ser senhora
De quem é cativa.
(Camões)

Como era linda, meu Deus!
Não tinha da neve a cor,
Mas no moreno semblante
Brilhavam raios de amor.



Ledo o rosto, o mais formoso
De trigueira coralina,
De Anjo a boca, os lábios breves
Cor de pálida cravina.



Em carmim rubro esgastados
Tinha os dentes cristalinos;
Doce a voz, qual nunca ouviram
Dúlios bardos matutinos.



Seus ingênuos pensamentos
São de amor juras constantes;
Entre as nuvens das pestanas
Tinha dois astros brilhantes.



As madeixas crespas, negras,
Sobre o seio lhe pendiam,
Onde os castos pomos de ouro
Amorosos se escondiam.



Tinha o colo acetinado
— Era o corpo uma pintura —
E no peito palpitante
Um sacrário de ternura.



Límpida alma — flor singela
Pelas brisas embalada,
Ao dormir d'alvas estrelas,
Ao nascer da madrugada.



Quis beijar-lhe as mãos divinas,
Afastou-mas — não consente;
A seus pés de rojo pus-me,
— Tanto pode o amor ardente!



Não te afastes, lhe suplico,
És do meu peito rainha;
Não te afastes, neste peito
Tens um trono, mulatinha!...



Vi-lhe as pálpebras tremerem,
Como treme a flor louçã
Embalando as níveas gotas
Dos orvalhos da manhã.



Qual na rama enlanguescida
Pudibunda sensitiva,
Suspirando ela murmura:
Ai, senhor, eu sou cativa!...



Deu-me as costas, foi-se embora
Qual da tarde ao arrebol
Foge a sombra de uma nuvem
Ao cair a luz do sol.



terça-feira, 19 de julho de 2011